CICERONEANDO
O presente e seus desafios: eis o ponto de confluências de um tempo no qual as expressões buscam mirar a própria face num confuso espelho. A nossa já tão apregoada “pós-modernidade”, ao mesmo tempo em que impõe outras observações de mundo, também serve de alvo predileto daqueles que vislumbram tal processo como um ambiente marcado por uma espécie de lapso de autenticidade nas manifestações artísticas. Sem dúvida, uma das virtudes maiores do nosso olhar deve ser a recusa imediata à superficialidade e à falta de comprometimento com as coisas que nos cercam. De fato, resistimos bem quando percorremos a condução poética de gente como Lucia Fonseca, João Filho e Marcus Vinícius Rodrigues. Com a devida propriedade, embasada numa observação crítica da atualidade, o escritor Affonso Romano de Sant’Anna participa de nossa sabatina e nos incita à reflexão. Nossas novas idades também se acercam das linhas de Daniela Mendes, Cláudia Rangel, Dheyne de Souza e Samantha Abreu. Durante toda a Leva, somos deslocados para os mundos onde habitam as lentes sensíveis do fotógrafo Márcio Ramos. O escritor André de Leones nos convida à leitura atenta de “Anna Kariênina”, clássico de Liev Tolstói. Uma multiplicidade de sentidos é a tônica da ótica cinematográfica do historiador Bolívar Landi para o belo filme “Persépolis”. Acreditando que sempre é tempo de prestar atenção aos imperativos valiosos de nossa existência, meu caro leitor, seja bem-vindo a outras percepções!
* Para comentar, clique no link EXPRESSARAM AFINIDADES no final da Leva.
a clockwork orange
Daniela Mendes
socializado, domesticado, adestrado, encoleirado, vegetariano, crina podada, quero não. limpo, responsável, paterno, funcionário do mês, de rimas fáceis, quero não. dominical, familiar, apreciador de Djavan, regenerado, cor de rosa, quero não. quadrado, comercializado, de rígidos horários, de ferradura nos pés, bonzinho, happy end, quero não. anti-bizarro, patético, piegas, estudioso, sem catarro, resolvido, quero não. que nem peida, sem música própria, sem arte, politicamente correto, ex-fumante, alcoólatra anônimo, quero não. crente, não dança, distante da última, medroso, acadêmico, empregado, quero não. elogiado, leve, analisado, de futuro brilhante, novela das nove, poetinha manjado, quero não. de paz encontrada, garantido, seguro, lícito, cutie cutie, que nunca esmaga formigas, deixa pra ela.
(Daniela Mendes, mais de trinta anos de leitura, verborragia que não se estanca, sempre teve necessidade de fugir do mundo real. Descobriu, graças ao virtual dos tempos de internet, que carregar alguém junto era muito mais divertido. Desde então, tem que se segurar pra não criar e destruir blogs e mais blogs. Já foi Colombina, no “Candongas não Fazem Festa”, e, depois de perder totalmente a vergonha na cara, resolveu abrir o Livraria das Obras Inéditas. Depois que descobriu que aconselhar amigas como num dicionário de soluções também era um exercício poético, resolveu criar o Verbetes. Também faz parte da revista de contos Histórias Possíveis e adora trocar correspondências)
JANELA POÉTICA (I)
CANTARES DO OFÍCIO DE CANTAR
Lucia Fonseca
III
Se queres saber onde começa e onde acaba a tua vida,
não procure à superfície dos dias
nem no trabalho onde consomes
pétala a pétala
a flor do tempo.
Se queres saber onde repousa a tua vida
as margens,
ah, busca as margens do dia.
Levanta as franjas da madrugada – pálpebra –
e debruça-te sobre o poço,
sobre a fonte que alimenta o rio – olho d’água.
Ali, no miolo do tempo,
nas esquinas da noite,
nos degraus da ventania,
encontrarás teu coração
pulsando amargo e alegre
no escuro.
(Desde a década de 80, a poesia de Lucia Fonseca vem construindo corpo e alma entre as palavras. O poema “Cantares do Ofício de Cantar III” integra o livro CANTARES (Editora da Palavra – 2007).
UNS OLHOS
Cláudia Rangel
A cerveja gelada, o vento noroeste que arrepiava a pele, a cidade deserta: qual desses fatores me alterava assim os sentidos? Nem mesmo pensava sobre isso. Só sentia que alguma coisa estava aguçada. O gosto da cerveja amarga, o efeito do vento na epiderme, o sabor marinho da casquinha de siri, tudo estava potencializado, multiplicado por cem. Era como se de uma hora para outra as coisas todas ganhassem um sentido ainda não vivido. Como se eu visse tudo pela primeira vez. Um pouco mais de pimenta: queria desfrutar ao máximo daquele súbito super-poder que me chegou no início da noite. Ardor. Mais um gole de cerveja: amargo. E tinha uns olhos, que acompanhavam cada movimento meu, liam meus lábios, acompanhavam os volteios do vento em meus cabelos. Uns olhos... Qual a cor desses olhos? Pretos, ou castanho escuros? O mundo se resumia no travo amargo da cerveja, no ardor da pimenta e naqueles olhos que eu procurava desvendar. Castanhos, inequivocamente castanhos, com alguns matizes mais escuros e outros dourados. Os olhos me diziam alguma coisa, que eu respondia, aceitava, discordava. Um diálogo de olhos. Comecei a medir a distância entre eles, depois a proporção deles em relação ao nariz. Um nariz grande. Sempre gostei de grandes narizes: dá mais força ao rosto todo. E bocas grandes, cheia de dentes, com lábios carnudos. Essa era uma boca assim, e tinha certo jeito de escultura. Não uma escultura de mármore, perfeita, mas como talhada a canivete na madeira bruta. Não era uma boca perfeita, nem bem desenhada. Parecia até mesmo sobrar no rosto. O conjunto do rosto não era bonito. Pelo menos não era o que se convenciona chamar de beleza masculina, não possuía a harmonia e a simetria que o conceito de beleza exige. Mas me prendia o olhar, como se aqueles olhos me guiassem para aquele rosto imperfeito, forte e, por isso, belo. De que falávamos? Do tempo, de música, de projetos futuros, pequenas idéias
(Fotógrafa, Cláudia Rangel vez por outra brinca de criar imagens com palavras)
JANELA POÉTICA (II)
MENOS UM
Para Zeca de Magalhães, in memoriam.
João Filho
Este susto da falta
que percebemos quando
no espaço desocupado
não tem mais ninguém andando.
Que anjo ou deus na rua,
na praça ou no largo
dá conta de menos um?
A ausência num afago
roça sua asa em mim
ao dobrar esta esquina,
não sei dizer se me
queima ou me ilumina.
Andamentos.
I
Minha vida toda
foi um diálogo só,
mas nesse combate
o Anjo venceu Jacó.
E com sol, vento e água
dos meus diários d’alma,
o sal da Presença
não se deu com calma.
Deus não é fácil, e o
mundo muito menos,
mas começam dentro
os males terrenos.
Ego de elefante,
corpo de formiga,
carrego no peito
minha horda inimiga. )
OUVIDOS ABERTOS (I)
Por Fabrício Brandão
KRISTOFF SILVA –
Imagine um lugar onde a sensação primeira das coisas parece estar em suspensão, algo como se tudo pudesse ser apreendido de forma separada, enaltecendo seus próprios valores para depois se encontrar num só ambiente de contemplações sonoras. Eis as impressões marcantes que brotam da musicalidade apurada de Kristoff Silva, artista que agrega em si as faces de compositor, instrumentista, cantor e autor de trilhas para teatro, dança e televisão, dentre outros atributos.
Ao longo de Em Pé no Porto, primeiro álbum do artista, podemos perceber a condição privilegiada na qual é posta a canção. De chegada, podemos sentir, em faixas como Mar Deserto e Estação Final, os apelos que constroem um espaço sublime e suave para a música. Faz jus às origens de Kristoff toda a preocupação em dotar as canções do disco com a força que brota dos recursos instrumentais. E estas não são apenas recursos meramente melódicos, pois se harmonizam com letras que se utilizam da solução poética. Prova vigorosa disso está na faixa O último Sol e também na canção Olhos da Nau. Outro aspecto que aumenta a qualidade do CD está nas participações especiais de Jussara Silveira (na belíssima Alma, Riso), Ná Ozzetti (na intensa e poética A Chamar), Luiz Tatit (
DE LINHAS E OMOPLATAS
Dheyne de Souza
Ela risca o seu braço entalhado nas linhas dos livros, das árvores, dos ônibus, da estrada. Ela risca e segue o traço das suas veias, sua imagem coagulada na memória. Seus poços desaguando em seus poros. Suas gotas de mar chovendo em seus seios. Espirala seus dedos e aponta ali uma cratera de sonhos. E segue.
No caminho tortuoso das suas costas, ela encontra casas impenetráveis, acaricia as soleiras, espia uma ou outra janela aberta, cortinas ventando, telhados molhados. Penetra um pouco mais, os móveis gemem estrofes brancas, colagens trêmulas, pássaros presos, paredes. As unhas infiltram seu dorso, escapa pelos retratos, arranha o tempo. Prossegue mais.
Descobre frestas lânguidas, titubeando naquele escuro o mistério alvo. Risca à língua os labirintos, trança na lâmina os ciprestes, e se afasta a observar o desenho do seu corpo. E o persegue.
As gotículas diminuem na medida em que se distancia, as pousadas menores na sua respiração cortinada, os vasos liliputianos na mesa. Seu corpo inteiro mapa.
Seu corpo inteiro segue, deita uma outra cidade à altura das suas omoplatas.
(Dheyne de Souza escreve principalmente poesia, também desenha e pinta. Está em Goiânia e nos ambientes de Histórias Possíveis, Palávoraz e Incontinência Poética). Seu e-mail é dheyness@gmail.com)
JANELA POÉTICA (III)
INTERIORES
Marcus Vinícius Rodrigues
Dentro de mim está um quarto
Calado
Dentro está o muro
Marrom
Uma cômoda surda
Réstia de luz néon
Dentro de mim, uma espera
Dentro, o ausente e último.
Para alcançar o dentro
um corredor é extenso e estreito
E está por vir o primeiro a se aventurar.
(Marcus Vinícius Rodrigues nasceu em Ilhéus-BA. Publicou o livro "Pequeno inventário das ausências" (Prêmio Brasken/Fundação Casa de Jorge Amado, 2001). Participou das antologias “Concerto lírico a quinze vozes: uma coletânea de novos poetas da Bahia” (Ed. Aboio Livre, 2004), “Os outros poemas de que falei” (Prêmio Banco Capital, 2004) e “Tanta poesia” (Prêmio Banco Capital, 2005), dentre outros)
Contato com o autor: marvin-r@uol.com.br
PEQUENA SABATINA AO ARTISTA
Por Fabrício Brandão
No terreno multifacetado das palavras, não são poucas as atribuições que podem ser percebidas
DA - Suas crônicas percorrem uma universalidade de temas. Porém, o foco das atenções aponta para uma apreensão ampla do humano em todas as suas complexidades. Esse olhar é uma boa ferramenta de provocação?
AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA – Acho que escrever é um certo modo de olhar. Não só o escritor vê coisas que a pessoa normal não percebe, mas vê e expressa isso de uma maneira específica. E a crônica é a redescoberta do cotidiano, dentro do qual você tem as coisas que transcendem esse cotidiano.
DA - É possível acreditar na escrita como uma espécie de libertação?
AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA – Sim. Libertação, catarse e, ao mesmo tempo, aprisionamento. Desde o momento em que se transforma em escritor, você também é prisioneiro da linguagem, prisioneiro em vários sentidos. Você começa a ver o mundo através da linguagem. Assim como o músico ouve sons e melodias o tempo todo, o escritor só vê o mundo através dessa lente, dessa rede, que tem esse caráter duplo de aprisionar e libertar.
DA - É muito difícil chegar a um consenso quando o assunto é definir a qualidade de uma obra literária, sobretudo se a discussão aponta para os chamados juízos de valor. Em sua opinião, o que deve nortear esse tipo de avaliação?
AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA – O juízo de valor ético e estético entrou em crise sobretudo na modernidade, no século XX. Assim como deixou de haver limites entre o feio e o bonito, o louco e o são, o sujo e o limpo, o alto e o baixo, o dentro e o fora, houve, principalmente na segunda parte da modernidade, na chamada pós-modernidade, uma indisposição em relação ao valor, como se qualquer coisa equivalesse a qualquer coisa. O que é uma mentira. Entre as mentiras da pós-modernidade, essa é uma delas porque na vida de qualquer um, sobretudo na daqueles que pregam a ausência de valor, valores estão sendo decretados. Dizer que os valores morreram é decretar um valor.
DA - Aquilo que chamamos pós-modernidade, caracterizada principalmente pela avalanche de informações, vem carregado de sintomas de um tempo onde parecemos nos agarrar pouco à substância das coisas. Será que estamos perdendo a capacidade de resistir?
AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA - Está muito complicado realmente, ainda mais para uma pessoa que vem de outra geração, como é o meu caso. Um jovem que está começando agora, e ele já nasce nesse contexto, não tem parâmetros de experiências para avaliar o presente. Existe realmente uma tendência na atualidade para a superficialidade, a fragmentação, a aparência, a pressa, a negação dos valores. Isso tudo são características da pós-modernidade. Tem muita gente que endossa e gosta disso. Eu não, pois tenho uma posição crítica em relação a isso. Acho que o intelectual, o ficcionista, o teórico que endossa as coisas da pós-modernidade é um desastre. Ele está assumindo uma ideologia, enquanto que a função do intelectual é justamente contestar as ideologias porque atrás delas existe uma coisa mais visceral e mais autêntica.
DA - Vivemos um período de crescente convergência entre as mais diferentes mídias, onde tempo e espaço se comprimem simultaneamente. Em que medida essa conjunção de fatores pode ser uma aliada dos novos escritores?
AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA – Era muito mais simples antigamente quando os gêneros eram muito estabelecidos, não só os gêneros líricos, dramáticos, épicos, o que era romance e poesia, mas o que significavam esses suportes também. O livro era uma coisa, o teatro, outra. Hoje há uma superposição muito rica. Eu gosto disso. Seu texto de repente ganha uma vida nova dentro desse quadro que é uma espécie de jogo de espelhos. Temos, por exemplo, poema transformado em vídeo, em balé, em pôster. E o problema que existe hoje é o desafio para o artista ter uma certa convivência com essas mídias. Em meu primeiro livro, o qual se chamou O Desemprego do Poeta, onde eu estudava o deslocamento do poeta na sociedade moderna, eu dizia que João Cabral de Melo Neto, em 1945, havia afirmado que os poetas precisavam se aproximar do rádio, forma de comunicação revolucionária da época (não tínhamos sequer televisão ainda). No entanto, ele falou aquilo, mas nunca se aproximou do rádio. Da minha parte, eu tentei me aproximar dos meios de comunicação todos. Fiz poemas de encomenda para rádio e televisão, por exemplo. Dentro desse ambiente, teve muita gente que se recusou a fazer parte do processo.
DA – Baseado nisso, você acha que o autor, mesmo o mais tradicional, ficaria muito alheio se não estivesse inserido nessa tendência?
AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA – Não. Ele pode de repente ficar na dele, como faz o Manoel de Barros, que constrói aquele poema filosófico sobre o nada, e fica lá no Mato Grosso, não incomoda ninguém, não corre atrás de ninguém. Fica na dele e o poema no papel. Acho que uma das coisas importantes na vida em geral e, sobretudo na vida artística, é a liberdade de cada um escolher o caminho que quiser.
DA - A contemporaneidade, rompendo certas convenções, trouxe uma nova aurora para a poesia? Qual a efetividade dessa provável ruptura?
AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA – Isso é outra arma de três gumes. Primeiro, não existe liberdade, pois ela é um conceito abstrato. Tudo está preso a um sistema determinado. Por exemplo, uma formiga que esteja andando aqui parece que está seguindo para onde quer, mas não, na verdade, está condicionada a uma série de fatores. Liberdade total é uma ficção. Mas aconteceu no caso específico da poesia uma coisa que eu acho meio danosa. Eu pego muitos livros de poesia que surgem por aí de um pessoal que não tem a menor noção do que é o verso. O verso é uma estrutura e tem gente que fica escrevendo e corta ele onde bem quer. Às vezes, nem corta, pára o verso onde bem entende como se aquilo fosse um texto
DA - Seu último livro, “A Cegueira e o Saber”, aborda questões que chamam a atenção daqueles que se aventuram pelo misterioso mar da criação literária, citando casos de nomes importantes, como James Joyce e Scott Fitzgerald, e que um dia tiveram obras suas recusadas por editores. Podemos dizer que sua intenção principal foi a de reduzir o peso dos ombros daqueles que procuram publicação?
AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA - A intenção eram várias. Primeiro, narrar para quem está interessado, principalmente o jovem autor iniciante, umas peripécias normais existentes na carreira do escritor. Depois, até exorcizar coisas que já vivi e vivo porque hoje, com mais de quarenta livros publicados, eu continuo a ter uma série de problemas também. Os problemas não param. Eu sempre tive nos meus textos uma preocupação de dizer para o leitor alguma coisa útil, além de dizer algo que eu penso. Outro dia, uma leitora me disse que sempre aprendia alguma coisa do ponto de vista da informação, da cultura nas minhas crônicas. Então, esses textos, que estão na Cegueira e o Saber, parte deles tem a função de dialogar com o jovem. Talvez isso venha do lado professor, de ter dado aula a vida inteira e também pelo fato de ser procurado o tempo todo pelo jovem autor que busca saber coisas. As perguntas são sempre as mesmas e, por conseqüência, as respostas também são idênticas. Tem umas coisas que eu estou experimentando e outros escritores antes de mim experimentaram. É bom passar isso para quem está começando.
DA – Para onde apontam seus novos rumos?
AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA - Eu vou lançar, na metade do ano, um livro que se chama O Enigma Vazio, um aprofundamento da análise das questões da arte e da cultura de nosso tempo. É um trabalho no qual eu peguei as análises feitas por grandes autores de algumas obras, por exemplo, o que o Octavio Paz escreveu sobre O Grande Vidro, de Marcel Duchamp, o que Jacques Derrida escreveu sobre Os Sapatos, de Van Gogh, o que Roland Barthes escreveu sobre um pintor americano chamado Cy Twombly, e assim por diante. Tudo isso para mostrar ao leitor como os grandes falam imensas tolices em termos de arte. Se os grandes erram dessa maneira, que dirá um jornalista, um crítico de país de periferia, de província que fica repetindo uma linguagem sem raciocinar. É um livro muito desafiante e que põe o dedo na ferida, uma leitura não mais subalterna desses textos, desses autores e da realidade. Não é possível, por exemplo, um professor que freqüenta exposições, lê e viaja, aceite uns produtos apresentados como arte, mesmo sabendo que aquilo não é arte e não diz coisa nenhuma. Insere-se no reino da insignificância, no sentido de algo que está ali, mas não significa nada. Você está diante daquilo e querem lhe vender como uma obra de arte fabulosa, cheia de predicados. Então, eu demonstro, nesse livro, o que é a invenção do discurso crítico. A crítica alucina. A crítica faz literatura quando deveria estar fazendo coisas objetivas. Literatura é outra coisa. E é importante que seja um escritor que venha denunciar nesses pensadores que eles estão fazendo literatura porque de literatura eu entendo.
DA – Inclusive essa abordagem aponta para toda aquela discussão em torno da perda da aura do objeto artístico.
AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA – É mais grave porque eles criam aura onde não se tem nada. Toda estética moderna caiu num paradoxo. Plagiando Benjamin, acabou a aura. Acabou coisa nenhuma, pois inventaram uma aura para coisas que não têm aura. Uma coisa é você olhar um quadro de Rafael, de Da Vinci, uma escultura grega que já vem com uma aura, obras que estão dentro de um padrão consagrado, sacralizado. Outra coisa é você pegar um urinol, uma roda de bicicleta ou pegar um quadro totalmente branco e começar a ter delírios. Esse delírio é verbal, literário, não tem nada a ver com a obra em si, pois existe uma esquizofrenia entre o discurso e o objeto.
DA - “Arte e fuga da espera” é um dos seus textos emblemáticos, no qual você mexe com o fio delicado de nossas existências – aquilo que projetamos como a fonte de nossas ansiedades. No caldeirão de contradições que é o nosso país, para qual direção apontam melhor as nossas esperanças?
AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA – O futuro do país é a soma de todas as suas contradições. Ninguém pode prever. O Brasil de hoje não é o Brasil do tempo de Vargas, não é o Brasil do tempo de Deodoro, nem de Tiradentes, nem de Cabral. Há vários brasis em movimento no tempo, sem falar do espaço, pois os índios da Amazônia são Brasil também. Estão na Idade da Pedra, mas são Brasil. Então, o futuro nesse sentido é muito imprevisível. Cada geração tem a sua pretensão de vir e colocar uma pedra nesse edifício, empurrar essa bola numa direção determinada. E a esperança nesse sentido é uma fatalidade do ser humano. Não existe nenhum ser vivo que não viva em expectação, como dizem os psicólogos. Se você tirar a expectação de sua vida, isto é, a expectativa, a visão de futuro, você pára de viver. Uma planta tem instintivamente a sua expectação, estão em movimento a seiva, o fruto, o aroma. Ela está produzindo uma coisa para depois. Os seres são assim também. Então, como diria Clarice Lispector, nós estamos condenados à esperança.
JANELA POÉTICA (IV)
DE DESERTO E SOMBRAS
Uma pedra íntima desvia
o meu grito de desgosto
interpretado sob medida
em um coração deveras
largo
e não se ajusta
à calma:
meus cantos todos calados
uma homenagem ao silêncio,
senhor de todo caminho
deserto.
DROPS DA SÉTIMA ARTE
Por Bolívar Landi
Persépolis (Persepolis). França/EUA. 2007.
Difícil especificar o que mais chama a atenção nesta deslumbrante animação produzida na França e co-dirigida pela iraniana Marjane Satrapi. O roteiro e a estética do filme foram baseados nas histórias em quadrinhos, de forte cunho autobiográfico, da própria diretora e narra a história de uma singular mulher iraniana desde a sua infância até atingir a idade adulta. A personagem principal acompanha, assim, as complexas transformações e conflitos enfrentados pelo povo do Irã após a deposição do Xá Reza Palev e instauração de uma república mulçumana no país. O filme, desse modo, acaba por se tornar em uma envolvente aula de história. A autora, contudo, não se restringe a uma função meramente didática, mas produz uma obra de extrema sensibilidade que traz uma eloqüente e consciente crítica ao regime opressor instalado em seu país. O próprio título da animação já é uma provocação, pois Persépolis era o nome dado à antiga capital do Irã antes da revolução fundamentalista islâmica. Satrapi consegue, ainda, ir além da mera acusação deste ou daquele regime e expõe a incapacidade do homem de respeitar o seu semelhante e a sua tendência a querer limitar, subjugar e dominar o outro, característica esta que pode ser evidenciada tanto no governo fundamentalista do Irã quanto na política imperialista exercida hoje pelos Estados Unidos.
O filme desvela as mazelas do espírito humano e chega muitas vezes a ser ácido quando revela a facilidade com que os homens modificam seus ideais ao se mudar de regime e quando denuncia a incoerência das convenções estabelecidas e as torpes estratégias utilizadas para cooptar ideologicamente as pessoas. Ao mostrar a guerra contra o Iraque, revela a dor e o sofrimento de um conflito que se arrastou ao longo de toda a década de 80, expondo os interesses ocultos que havia por trás dela e apontando todos os seus horrores: delações, torturas, execuções sumárias, traições. A obra revela, também, o cotidiano das pessoas que são obrigadas a criar submundos na esfera privada na desesperada tentativa de vislumbrar ao menos um frágil espectro da liberdade; outros são forçados a deixar o seu país, a negar a sua identidade e a levar adiante a difícil tarefa de manter a integridade em um ambiente tão distorcido... Professores dos mais distintos campos de conhecimentos deveriam estar atentos ao potencial de discussão proporcionado por este filme.
Persépolis dá prosseguimento ao trabalho de muitos diretores e escritores iranianos que, a despeito da censura a que são submetidos, vêm nas últimas décadas presenteando o mundo com filmes de grande beleza, como os sensíveis “O Balão Branco” e “Filhos do Paraíso”. Marjane Satrapi consegue apresentar mais uma contundente e não simplista visão da sua sociedade e de sua cultura. A obra concorreu ao Oscar de melhor animação em 2007 e traz também como atrativo a presença de três grandes atrizes francesas: Chiara Mastroianni, Catherine Deneuve e Danielle Darrieux que dublam as vozes dos personagens principais.
(Bolívar Landi é historiador e tantas outras coisas mais. Cinéfilo por convicção, também se atreve a navegar no mar de feitos literários)
JANELA POÉTICA (V)
TORTUOSO
Para Torquato Neto
Fabrício Brandão
Perdeu-se em poesia
O menino nu
Homem preso no átimo vacilante
Existir agora será um cumprir sina
Caminhando dentro do cristal sensível
Com o direito de romper pactos infelizes
Uma vida inteira soube vociferar linhas
Escorrendo últimos tratados de loucura
Para azulejos íntimos de cárcere
Ali onde a alma se esvaiu
O instante se congelou em serena retina
Temendo os solavancos da luz
[a viagem jamais deteve a cor do sangue]
Você não é obrigado a ler Liev Tolstói. Aliás, ninguém é obrigado a ler coisa alguma. Mas eu recomendo com todas as minhas forças que você leia Liev Tolstói. Poucos escritores foram tão bons quanto ele. E eu sugiro a você que encare logo de saída o estupendo Anna Kariênina, na tradução feita a partir do original russo por Rubens Figueiredo e lançada há algum tempo pela Cosac Naify.
Eu estourei o limite do cartão de crédito para comprar Anna Kariênina. Depois, diante daquele calhamaço de tamanho considerável, pensei que não teria paciência para enfrentá-lo por esses dias. Eu não poderia estar mais enganado. Certo dia, peguei o livro para folhear e, quando me dei conta, estava completamente vidrado. Eu o li em doze dias. Oitocentas páginas preenchidas com letras miúdas e com todos aqueles nomes russos complicados. A prosa de Tolstói vicia.
A primeira coisa que chamou a minha atenção foi como Tolstói não se esforçava para tornar a sua prosa “bonita”. Quando julgava necessário, ele repetia palavras à exaustão e investia conscientemente em longos períodos desajeitados, ríspidos, arrevesados. Essa característica estilística não aparecia nas traduções anteriores de Anna Kariênina porque elas, em geral, eram traduções de traduções, feitas a partir de versões francesas do romance e “amaciadas” nesse processo todo. Rubens Figueiredo, felizmente, resgatou a beleza rústica de Tolstói para todos nós.
Mas Anna Kariênina impressiona sobretudo pela maneira como foi estruturado. Ele foi todinho montado a partir de paralelismos. Se o leitor aí pensa que o livro não passa de uma longa narrativa de adultério, vai se surpreender logo nas primeiras páginas. Há, na verdade, vários personagens tão importantes quanto aquela que dá título ao livro, e suas histórias seguem paralelas, justapostas, descentralizando a narrativa e tornando cada episódio digno de importância e interesse. Não existe, portanto, um centro temático ou narrativo para o qual tudo converge. O romance flui e se desenvolve em diversas direções.
Aliás, a minha passagem favorita do livro nada tem a ver com a personagem-título. Trata-se do capítulo XX da Parte 5, onde é narrada a morte de Nikolai, irmão de um dos protagonistas, Liévin. Em pouco mais de seis páginas, Tolstói dá conta de tudo o que se passa pelas cabeças das pessoas quando diante da morte. Um excerto (página 494):
Aquele sentimento da morte, despertado em todos pela sua despedida da vida naquela noite em que chamara o irmão, fora destruído. Todos sabiam que ele morreria em breve e inevitavelmente, que já estava meio morto. Todos só desejavam uma coisa: que ele morresse o mais rápido possível, e todos, lhe escondendo isso, lhe davam os frascos de remédio, procuravam os medicamentos, os médicos e enganavam ao doente, a si mesmos e uns aos outros. Tudo era mentira, uma mentira torpe, ultrajante e sacrílega. E essa mentira se fazia sentir mais dolorosamente para Liévin, tanto pela sua índole pessoal como pelo fato de amar o moribundo mais do que todos os outros.
Eu escrevi no começo deste texto que você não é obrigado a ler Tolstói, que ninguém é obrigado a ler coisa alguma, mas continuo recomendando com todas as forças: leia Tolstói. Se não tiver tempo, paciência ou talento (sim, um bom leitor é tão talentoso quanto um bom escritor) para encarar todo o Anna Kariênina, vá até uma livraria, sente-se com o livro a uma mesa ou no chão e pelo menos leia o capítulo XX da Parte 5. Não é preciso muito para que o leitor perceba o quanto o autor russo é genial e imprescindível. Liev Tolstói é simplesmente assombroso.
(*) André de Leones é escritor, mantém um blog e está mais para Liévin do que para Vronski.
Foto: Márcio Ramos
JANELA POÉTICA (VI)
CRONOMETRIA
Neuzamaria Kerner
O relógio cronometra a vida.
marca os passos de cada um de nós.
Em seu tic
tiques nervosos do mundo.
Em seu tac
tacos do tempo que passa.
E nós, cada um,
tic-tac
toc-toc
batendo na porta da vida
engrenagens de todos os mundos.
OUVIDOS ABERTOS (II)
Por Fabrício Brandão
3 NA MASSA – NA CONFRARIA DAS SEDUTORAS
Há quem diga que as mulheres são o ponto fundamental do equilíbrio desse nosso desvairado e errante mundo. Guardadas as devidas proporções das diferenças entre os sexos, o universo feminino parece levar uma certa vantagem quando o assunto é a habilidade em lidar com a árvore frondosa dos sentimentos. Para se ter uma noção, reúna num mesmo banquete o coro de vozes afinadas em torno de um mesmo propósito: a exposição do desejo. O resultado disso chama-se Na Confraria das Sedutoras, disco que celebra as visões femininas dentro da ótica das relações amorosas. Quem escuta a fundo o CD, pode perceber a avalanche de impressões que é despejada pelo viés feminino, tudo reunido num verdadeiro caldeirão a misturar erotismo, sensualidade e, acima de tudo, sensibilidade.
Toda essa confluência de sentidos faz parte do projeto 3 Na Massa, grupo que reúne os músicos Pupillo e Sucinto Silva (ambos integrantes da Nação Zumbi), além de Rica Amabis (Instituto). Os três colocaram a “mão na massa” numa produção onde vozes como as de Céu, Thalma de Freitas, Karina Falcão, Pitty, Nana Miranda, dentre outras, ecoam seus recados num verdadeiro diálogo aberto com aquele que se afigura como o objeto dos desejos exalados. Na Confraria das Sedutoras utiliza-se de arranjos que sabem recriar os ambientes sobre os quais repousa a temática viva das canções. É difícil destacar faixas, pois cada uma vislumbra uma faceta peculiar desse jogo complexo de emoções. Além disso, o disco traz em si um apelo imagético muito forte, como se cada canção, pela via dos arranjos, sugerisse de imediato o contorno dos cenários que servem de pano de fundo para o canto. Deixando de lado a velha mania de se atribuir “vanguardismos” a esse ou aquele artista, mais vale a idéia de se transformar aquilo que já existe em algo valioso e capaz de tirar, bem debaixo de nossos narizes, os móveis de lugar.
TEMPERO PRONTO
Samantha Abreu
Sempre fui alvo de pessoas que falam coisas sem pensar. Fazem isso sempre com as melhores das mais diabólicas intenções, tentando não me magoar. Pois bem, falar é fácil e as pessoas não têm idéia das atrocidades que cometem quando opinam e aconselham sobre a vida alheia. Ele, principalmente, acha que sou sensível demais e até um pouco birrenta, mas não sei não, à essa altura, com todo mundo achando que as mulheres devem ser modelos de sobriedade e autocontrole, eu sou mesmo uma santa.
Desde o começo de namoro, ele ficou a par de toda a minha história de vida e problemas traumatizantes da infância. Agora vem me dizer que preciso ser diferente. Meu Deus, com 43 anos não se muda de personalidade e de costumes! Ele trouxe até a irmã para tentar ajudar com meu ‘problema psicológico’. Isso tudo só porque tenho o hábito de temperar a comida com tempero pronto, me recuso a usar cebolas. Ele e a família, todos psicólogos de nascença, acreditam na superação desse trauma. Quando vejo a irmã dele entrar, meu corpo treme incontrolavelmente. Em minha cabeça vozes vociferam os mais profanos palavrões, inclusive, alguns que eu nem sei o que significam, mas de maneira elegantemente irônica viro para ela e solto: - De novo, Luíza? Já disse ao Rubem para não te incomodar com isso! Ela faz a maior de todas as tentativas para se aproximar e explicar que preciso de ajuda não só pelo fato de odiar cebolas, mas pelo significado disso para mim.
Então tá, vou explicar: quando criança, eu tinha péssimos hábitos alimentares, aliás, como a maioria das crianças. Meu pai me ameaçava com um cinto, me fazendo comer toda a cebola da salada. Mais tarde, na adolescência, minha mãe foi morta por assaltantes quando saía do supermercado e tinha nas mãos um pacote de cebolas. Desde então, as cebolas vêm me acompanhando pelos piores momentos da vida. Por isso, Rubem e toda a sua família acham que guardo uma arquitetura de traumas devido aos episódios com as cebolas.
Enquanto Luíza derrama toda sua explicação filosófica para tentar me salvar da tal perdição enlouquecedora, eu pratico um dos meus exercícios favoritos: converso comigo mesma. Faço planos para o fim de semana e penso nas contas a pagar. Às vezes, olho para ela e vejo sua boca mexendo sem parar, como se estivesse dentro de uma televisão no mudo. Não escuto nada.
O que Rubem e sua corja não entendem é que não estou nem aí para as tais cebolas. Não uso por pura vaidade. E, de fato, quando ele insiste, me deixa profundamente irritada. Mais importante do que a aversão-trauma às cebolas, e que eles não percebem, é que tenho apenas um defeito quase genético: sou patologicamente incapaz de agüentar merda de quem quer que seja.
Nesse momento estou no limite da minha tolerância enquanto Luiza continua a falar descontroladamente. Se ela imaginasse o grau de ebulição do vulcão que existe dentro de mim, pararia imediatamente. Assumo um ar sombrio e tempestuoso que ocupa todo o meu rosto como se eu tivesse acabado de descobrir asas de barata do meu sanduíche. Volto para ela com os olhos faiscando e riscando o ar com uma só expressão: fo-ra da-qui!
.....- Luíza – interrompo, deixando-a boquiaberta – já li quase todos esses livros: a grande busca pelo significado da vida, para qual história minha família me encaminhou. Sei de tudo isso e não ignoro totalmente, apesar de algumas atitudes recentes demonstrarem o contrário. Agora peço desculpas, mas estou de saída e é urgente.
Sem maiores explicações, saio da sala e ela se debate no sofá. Penso: agora sim me despedi da minha derradeira imagem de pessoa elegante e equilibrada. Sou uma destruidora. Anarquista. Hooligan. Selvagem. Bruxa. Na realidade uma terrorista, o que por dentro me traz uma gostosa sensação de contentamento. Sei o que irão avaliar agora. Vão me depreciar com coisas do tipo: não sou confiável, sou imprevisível, propensa a acessos espontâneos de ironia, irresponsável, rabugenta. Vai ser o discurso habitual para acabar comigo. E, pra falar a verdade, senti mesmo vontade de avançar em sua garganta até o sufocamento. Depois, iria como sombra de Rubem ao funeral, surpreendendo a todos atrás do meu óculos Calvin Klein, com um erguer tumular de sobrancelhas significando ‘isso foi só um aviso’. Mas só o fato de me ver livre de sua dissertação psicanalítica das cebolas já enche de sol o meu coração e, em estado de graça, vou dançando e saltitando pelas lajotas da garagem até onde deixo meu carro. Depois disso, logo pela manhã, estou ansiosa por um cansativo dia de trabalho.
Compreendo inteiramente que Rubem e sua família sintam as mais sofridas emoções humanas, mas há limites: meus intestinos simplesmente não conseguem mais suportar. O que realmente quero fazer é socar os malditos, arrancar os cabelos, berrar muito e arranhar a cara deles até ficarem esfolados vivos. Talvez assim, me digam por que estão fazendo isso comigo e com as drogas das cebolas! Trabalho o dia todo pensando nesses atos insanos de esquartejamento. À noite, chego em casa a tempo de cozinhar o jantar e, mais uma vez, me nego a usar cebolas.
Rubem aparece à porta e sinto no ar sua respiração. Quando começa a abrir a boca para me dirigir a palavra, viro em sua direção com uma enorme faca apontando-lhe o corte e berro:
.....- Não vou usar cebolas porque elas me fazem chorar! E che-ga!
(Samantha Abreu é de Londrina, PR. Escreve os blogues ‘Alta Intimidade’ e a série ‘Mulheres sob Descontrole’. Tem textos publicados em revistas, sites e antologias. Escreve para se fazer de outras, para fantasiar e, no final das contas, poder sair da festa sem ser vista)
Foto: Márcio Ramos
* O fotógrafo Márcio Ramos é natural de Andradina - divisa de SP com MS - filho de pai comerciante e mãe artista plástica. Ainda na infância, apaixonou-se pela literatura e pelas artes visuais. Começou a fotografar para registrar suas viagens, pois, desde os 12 anos, coloca o pé na estrada. Procura registrar as maravilhas da natureza e a cultura do homem do campo, do caiçara, a correria da cidade grande em suas múltiplas imagens, as manifestações políticas e culturais do Brasil.